A primavera silenciosa de
Rachel Carson
Conheça a história da bióloga e escritora responsável
pela maior revolução ecológica dos Estados Unidos
QUEM É ELA
Escritora, cientista bióloga e ecologista norte-americana, nasceu em 1907,
na cidade de Springdale, no estado da Pensilvânia. E, desde a infância-
influenciada pela mãe- se interessava pela natureza. Em 1929, graduou-se na
Pensilvânia College for Women, estudou na Woods Hole Marine Biological
Laboratory e depois formou-se em Zoologia pela Universidade John Hopkins, em
1932. Foi contratada pelo governo americano para escrever boletins para a rádio
durante a Depressão e também escrevia artigos sobre história natural para o
Jornal Baltimore Sun. Em 1936, torna-se editora – chefe de todas as publicações
do renomado U.S. Fish e Wildlife ( Departamento de Pesca e Vida Selvagem). Suas
primeiras publicações foram sobre os estudos das espécies e seres vivos que
habitavam os mares e oceanos como: Under The Sea Wind (Sob o Vento do Mar –
1941), The Sea Around Us (O Mar Que Nos Rodeia – 1951), que foi sucesso
nacional e internacional e foi traduzido para 30 idiomas.
Fonte: “Testemunha para a Natureza”, de Linda Lear, 1997 e “Primavera
Silenciosa”, de Rachel Carson, Edição Melhoramentos, 1962.
O nome é Rachel Louise Carson. Pouca gente a
conhece fora dos círculos acadêmicos, mas ela foi a bióloga e escritora
responsável pela maior revolução ecológica dos Estados Unidos e do mundo,
quando lançou o livro “Primavera Silenciosa” (Silent Spring), em outubro de 1962.
Apesar do título poético – uma referência ao silêncio dos pássaros mortos pela contaminação
dos agrotóxicos -, nunca um livro fez tanto barulho a favor do
meio ambiente. No primeiro capítulo, “Uma Fábula para o
Amanhã”, a autora descreve, liricamente, um lugar onde as árvores não davam
folhas, os animais morriam, os rios contaminados não tinham peixes e,
principalmente, os pássaros que cantavam na primavera haviam sumido. Mas, nos
16 anos seguintes, Carson, de maneira demolidora, explicou e denunciou o perigo
dos pesticidas.
O interessante é que, apesar de já ser conhecida como escritora e
pesquisadora, quando publicou “Primavera Silenciosa”, Carson foi alvo de
inúmeras reações contrárias, principalmente das indústrias químicas, que
tentaram de todas as formas – até utilizando campanhas de publicidade –atacar a
sua credibilidade como cientista. O ex-vice-presidente americano Al Gore, em
sua introdução à edição comemorativa dos 40 anos de lançamento do livro, relata
que “o ataque a Rachel Carson se compara à intolerância que Charles Darwin
sofreu quando escreveu “A Origem das Espécies”.
Sempre lutando, a escritora discursou no Congresso americano em 1963, onde
pediu novas políticas destinadas a proteger a saúde humana e o meio ambiente.
Morreu na primavera de 1964, aos 57 anos, de câncer de mama. Posteriormente,
verificou-se que, ironicamente, a causa pode ter sido a sua demasiada exposição
às substâncias químicas tóxicas. “Portanto, num certo sentido,“Primavera Silenciosa”
foi escrito literalmente para sua vida”, comenta Al Gore. Em 1972, o uso do DDT
foi proibido nos Estados Unidos, e a revista Time a incluiu na lista das 100
pessoas mais influentes do século XX. Em 1992, um grupo de escritores
americanos elegeram “Primavera Silenciosa” como o livro mais influente dos
últimos 50 anos naquele país e no mundo.
Em 2000, a Escola de Jornalismo de Nova York consagrou a obra como uma das
maiores reportagens investigativas do século XX. Seis anos depois, o jornal
britânico The Guardian escolheu Rachel Carson para o primeiro lugar na lista
das cem pessoas que mais contribuíram para a defesa do meio ambiente de todos
os tempos. A Ecológico selecionou, aqui, trechos em que a cientista fala
sobre os animais, a natureza, os pesticidas e a contaminação do meio ambiente.
Ironia
“Arriscar tanto nos nossos esforços destinados a moldar a natureza de
acordo com a nossa satisfação e a nossa conveniência e, ainda assim, acabar
fracassando sem atingir o objetivo seria, na verdade, a ironia final. A
verdade, raramente mencionada, mas existente, para ser vista por qualquer
pessoa que deseje vê-la, é que a natureza não é facilmente moldável, e
que os insetos estão encontrando caminhos para contornar os nossos ataques
contra eles.”
Foto: Reprodução
Darwin
“Se Darwin estivesse vivo nos dias de hoje, o mundo dos insetos o encantaria
e desconcertaria com as confirmações relacionadas às teorias que ele elaborou,
a propósito da sobrevivência do mais adaptado. Sob os efeitos venenosos da
pulverização intensiva dos inseticidas, os membros fracos das populações de
insetos estão sendo varridos da existência.”
Insetos
“Muito antes da idade do homem, os insetos já habitavam a Terra, compondo
um grupo de seres extraordinariamente variados e adaptáveis. No curso do tempo,
a contar do advento do homem, uma pequena percentagem de mais de meio milhão de
espécies de insetos entrou em conflito com o bem-estar humano por duas formas
principais: como competidores no consumo do abastecimento de comida e
como transmissores de doenças.”
Radiação
“A radiação, agora, não é mais apenas a radiação de plano secundário, das
rochas; nem é mais o bombardeio dos raios cósmicos, e menos ainda dos raios
ultravioleta do sol, que já existiam antes que houvesse qualquer forma de vida
sobre a Terra. A radiação, agora, é a criação não natural dos malfazeres do
homem com o átomo.”
Pesticidas
“A partir de meados de 1940, mais de 200 substâncias químicas, de ordem
básica, foram criadas para uso e matança dos insetos, de ervas daninhas, de
roedores e de outros organismos que, no linguajar moderno, são descritos como
“pestes” ou “pragas”, e elas são vendidas sob milhares de denominações
diferentes de marcas. Estes borrifos, estes pós e aerossóis são agora aplicados
quase universalmente em fazendas, jardins, florestas e residências.”
“São substâncias químicas não seletivas, que têm poder para matar toda
espécie de insetos, tantos os ‘bons’ como os ‘maus’. Têm poder para silenciar o
canto dos pássaros e deter o pulo dos peixes na correnteza; para revestir as
folhas das plantas com uma película mortal e para perdurar, embebidas no solo.”
Biocidas
“Pode alguém imaginar que seja possível instituir semelhante barragem de
venenos sobre a superfície da Terra, sem torná-la inadequada para a vida toda?
Tais substâncias não deveriam ser denominadas de ‘inseticidas’ e, sim, de
biocidas.”
DDT
“O DDT (Dicloro-difenil-tricloro-etano) foi sintetizado pela primeira vez
por um químico alemão em 1874, mas as suas propriedades, como inseticida, só
foram descobertas em 1939. Quase que imediatamente, foi saudado como o recurso
para a eliminação das doenças transmitidas por insetos, e para ganhar, da noite
para o dia, a guerra dos agricultores contra os destruidores de colheita. O DDT
é tão universalmente usado que, para a maior parte das pessoas, o produto
assume aspecto familiar de coisa inofensiva.”
“Os efeitos no homem, onde já são conhecidos, demonstraram ser
destruidores. Para além desses, encontra-se perspectiva ainda mais avassaladora
dos danos que só podem ser detectados no fim de longos anos, e dos possíveis
efeitos genéticos que não podem ser conhecidos durante gerações.”
“A partir de quando o DDT foi colocado à disposição do uso civil, um
processo em escala industrial está em marcha. Isto aconteceu porque os insetos,
numa reivindicação triunfante do princípio de Darwin, relativo à sobrevivência
dos mais fortes e mais adaptados, desenvolveram super-raças imunes aos efeitos
do inseticida em particular usado contra eles; daí resultou a necessidade de se
prepararem substâncias químicas ainda mais mortíferas – cada vez mais letais-
e, depois, outras, ainda mais propiciadoras da morte.”
Futuro
“Temos permitido que as mencionadas substâncias químicas sejam usadas sem
que haja investigação alguma, ou apenas uma investigação insuficiente, quanto
aos seus efeitos sobre o solo, a água, sobre a vida dos animais silvestres e
também sobre o próprio homem. As gerações futuras não perdoarão, com toda
probabilidade, a nossa falta de prudente preocupação a respeito da integridade
do mundo natural que sustenta a vida toda.”
“Em áreas cada vez mais amplas dos Estados Unidos, a primavera agora surge
sem ser anunciada pelo regresso dos pássaros. As madrugadas também se
apresentam estranhamente silenciosas nas regiões em que outrora se enchiam da
beleza do canto deles. Este súbito silenciar da canção dos pássaros (...) se
estabeleceu depressa, insidiosamente, sem ser notado por aqueles cujas
comunidades estão sendo por ora afetadas.”
Civilização
“A questão consiste em saber se alguma civilização pode levar adiante uma
guerra sem tréguas contra a vida, sem se destruir a si mesma e sem perder o
direito de ser chamada de ‘civilização’(...) Temos pela frente um desafio como
nunca: a humanidade teve de provocar nossa maturidade e nosso domínio, não da
natureza, mas de nós mesmos.”
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