Em Portugal, o Pão por Deus é uma tradição antiga que se realiza por altura do Halloween. No dia de Todos-os-Santos, dia 1 de Novembro, é costume grupos de crianças saírem à rua e andarem de porta em porta a pedir o “Pão por Deus”.
O pedido é acompanhado por cantilenas variadas:
-“Ó tia, dá Pão-por-Deus? Se o não tem Dê-lho Deus!”
-“Pão por Deus, Fiel de Deus, Bolinho no saco, Andai com Deus”.
E, em resposta, agradecendo a esmola:
-“Esta casa cheira a broa!
Aqui mora gente boa!
Esta casa cheira a vinho,
Aqui mora algum santinho!”
Ou, se lhes fosse negado o pedido:
-“Esta casa cheira a alho, Aqui mora um espantalho. Esta casa cheira a unto, Aqui mora algum defunto.”
Subjacente a todas as cantilenas, há um agradecimento se o pedido for satisfeito com uma oferta e ditos jocosos ou a promessa de travessuras se o pedido for negado.
Mandava a tradição que as crianças se apresentassem arranjadas e com muita compostura, sem máscaras e com um ar sério, combinando com a solenidade do dia.
O “pão de Deus” – ou broas, bolos, romãs e frutos secos, como amêndoas, nozes e castanhas, eram recolhidos nos talegos, sacos de retalhos, para depois serem divididos entre todos.
É corrente afirmar-se que esta tradição terá tido início em Lisboa, em 1756, um ano após o Terramoto, em que a população empobrecida aproveitou a circunstância do dia santo e da comemoração da catástrofe, para desencadear um peditório espontâneo que se estendeu a toda a cidade, a pedir esmola ou um “pão, por Deus” que lhes mitigasse a fome.
Na Galiza o peditório tem o nome de migalho (migallo).
No Tenerife tem o nome de "Pan por Dios" ou “Los Santitos”.
Em Florianópolis tem o nome "Finadinho" ou pão por Deus.
Não obstante, a designação de “dia de pão por Deos” e o costume de repartir pão cozido pelos pobres são registados em documentos jurídicos do século XV: “Pagaredes, o dito foro em cada hum anno em dia de pão por Deos” (Viterbo, 1865, 265).
Teófilo Braga aponta para uma apropriação cristã de um costume pagão ancestral: “os pães chamados darum entre os mitriacistas, e mamphula pelos romanos, tornaram-se nestas ofertas cristãs” (Braga, 1994, 223).
A ligação do pão ao dia em que se celebram todos os santos e mártires, decorre das práticas ancestrais e transversais a várias religiões e práticas devocionais de associar os mortos à vida quotidiana e manter a relação entre os vivos e os seus ancestrais, como é o costume de deixar o “pão das almas” nas sepulturas, no dia dos Finados dos Fiéis Defuntos, a 2 de novembro, ou a tradição dos bodivos, ou refeições que se davam aos pobres pelas almas dos defuntos, por seu turno, subsidiárias da ágape eucarística (Viterbo, 1865, 200-203).
Leite de Vasconcellos, registando o costume a 2 de novembro, atribui-lhe uma origem francesa, sugerida pelos versos populares recolhidos em Preuilly-sur-Cher (“Boun’dam’, donnez du pain pour Dieu, Que nous dis’rons les Ovradiev, Les Ovradieu de Jésus-Christ.”) ou em Bengy-sur-Craon (“Donnez nous le pain du bom Dieu, Apprenez nous les A-Vois-Dieu, Les A-Vois-Dieu de Nout’Seigneur”) (Vasconcellos, 1938, 1313).
Em Portugal, o dia de Todos os Santos, por ser feriado, acabou por ser dia de visita aos cemitérios, devida no dia dos Fiéis Defuntos, celebrada a 2 de novembro, e, por conseguinte, o dia de oferendas aos mortos, consubstanciada no costume de colocar flores nas sepulturas.
É, também, neste dia que se fixou o hábito de pedir o “pão, por Deus”, integrado no ritual popular de homenagem a Todos-os Santos e aos mortos, sendo, nalgumas zonas, conhecido como o dia do Bolinho:
-“Bolinhos e bolinhos, Para mim e para vós!"
O costume fixou-se, alargou-se a todo o país e perpetuou-se no tempo, até aos nossos dias.
É também costume em algumas regiões os padrinhos oferecerem um bolo, o santoro.
O santoro é uma espécie de pão bento, um bolo comprido que se dá em dia de Finados ou de Todos-os-Santos e que é do feitio de uma tíbia.
Já pedir o "santorinho", que começava nos últimos dias do mês de Outubro, era o nome que se dava à tradição em que crianças sozinhas, ou em grupo, de saco na mão iam de porta em porta para ganhar doces.
Em Trás-os-Montes pede-se o “pão das almas”.
As crianças quando pedem o pão-por-deus recitam versos e recebem como oferenda: pão, broas, bolos, romãs e frutos secos, nozes, tremoços amêndoas, ou castanhas que colocam dentro dos seus sacos de pano, de retalhos ou de borlas.
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https://www.youtube.com/watch?v=tRCIWjEdqQU
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